domingo, 28 de dezembro de 2014

Sobre o Amor

Ah, o amor!
...Mas que amor?

"Amor" é uma daquelas palavras que mostram os limites da linguagem. Também mostra
que somos bastante desorganizados, de maneira geral. Essa mesma palavra é usada, sem
distinções adicionais, para muitas coisas diferentes em contextos incomparáveis.
Falamos no amor de um casal, falamos no amor em uma família, falamos no amor pela
humanidade, falamos no amor pelos animais, usamos a palavra às vezes como eufemismo,
às vezes como analogia. O rigor no uso do termo é bem pequeno.

Quem sabe? Talvez o amor em si seja uma daquelas partes místicas da existência para as quais
nunca daremos explicação definitiva e, ao mesmo tempo, nunca deixaremos de pensar sobre.
Isso não significa que falar nisso é inútil. As palavras que escolhemos nesses casos definem nossas
expectativas e orientam nossa percepção da realidade.
Bem, então, o que podemos observar sobre o amor?

Podemos observar que o amor estabelece prioridades em nossas vidas. As pessoas e até as coisas
que dizemos amar tomam um papel central na nossa percepção que ofusca as pessoas e coisas
que não amamos, exceto aquelas que odiamos. O amor estabelece relações que não são redutíveis a
termos econômicos, biológicos, psicológicos, etc. De fato, o amor frequentemente parece irracional,
irrazoável, ininteligível. Aqueles que se declaram afetados pelo amor frequentemente reagem
a partir de eventos que, para um observador externo, nunca deveriam ter causado tais reações.

O mesmo pode ser dito sobre o ódio. É curioso que praticamente tudo o que penso sobre o amor
pode também ser referido ao ódio. A principal diferença está na valoração, ou seja, que
preferimos o amor e o chamamos de bom, enquanto no ódio temos o caso contrário.
Isso parece mostrar que existem pelo menos dois objetos do mesmo gênero, como se alguma
característica da humanidade nos permitisse experimentar uma certa espécie de estado que pode
variar na forma. Não é surpreendente que amor e ódio caminhem tão próximos!

Hoje em dia é mesmo necessário mostrar que sentimentos existem, para depois continuar.
No nosso mundo desencantado, a interpretação de que somos cem por cento egoístas, a interpretação de que sensações aparentemente profundas e até místicas são redutíveis a explicações materiais e a interpretação de que as sensações do espírito nascem todas da ignorância resultam em uma aversão imediata à discussão de conceitos como o do amor. Não é surpresa que o amor sexual seja o único realmente percebido pela maioria das pessoas.

Por que? Isso porque o amor sexual é construído da seguinte forma. O amor, que podemos
chamar de anseio pelo espírito, é unido ao desejo, ao anseio pelo corpo. A ordem dos fatores não altera o resultado, porque se trata de uma multiplicação. Uma vez feita a associação, uma vez que
alguém encontra uma pessoa que pode amar e também desejar, temos uma relação na qual o desejo
aumenta o amor e o amor aumenta o desejo. A percepção de um instiga ao outro. Assim
se obtém um amor, algo essencialmente intelectualizado e próximo de ser harmônico, sob
forma de paixão, algo mais natural ao desejo, que é por essência corporal e volátil.

É relevante mencionar que nesta sociedade a monogamia é tida como o caminho moral mais
apropriado para a sexualidade. Dessa forma, o encontro entre o amor e o desejo é frequentemente
forçado. Muitos chegam a até a recusar qualquer desejo que não acompanhe o amor e, infelizmente,
muitos recusam qualquer amor que não acompanhe o desejo, não por coincidência.  

Aí está a resposta da pergunta "Por que o amor sexual é claramente percebido?".
O desejo pelo prazer físico tem bases biológicas e, portanto, basta ter um corpo para senti-lo.
Muitas coisas podem ser cultivadas ou eliminadas em nossa existência, como o amor. Mas o
desejo não pode ser eliminado. Pode ser reprimido, coberto de concreto, mas quando examinamos
a nós mesmos mais de perto, lá está a erva daninha!
Assim, mesmo as pessoas que são intelectualmente e espiritalmente medíocres são capazes de continuar experimentado o amor sexual, mesmo depois de terem perdido a capacidade de apreciar a arte, a filosofia, a ciência, a fé, a virtude, enfim, o espírito.
Resta até no mais macaco dos homens um pouco de luz, e os medíocres buscam
no imediatamente presente, a única parte da existência que eles admitem, o espiritual.

É fácil notar que muitos dos que buscam desesperadamente um relacionamento sexual não estão incomodados com a falta de prazer físico, porque isto poderia ser solucionado com um arranjo
mais prático que algo como um namoro. Sofrem com a solidão, com a falta de carinho, de respeito,
de confiança e confidência em suas vidas. Existem hoje duas condições para que um sentimento
profundo apareça em alguém. O benefício de sentir deve ser imediatamente aparente e a moralidade
da sociedade deve forçar a perpetuação da relação com algum laço de compromisso. Por isso
os medíocres sabem se apaixonar e amar suas famílias, mas não sabem  ter amizades profundas,
nem amar a humanidade e suas obras, nem amar ao restante da natureza

Você já se perguntou por quê os grandes gênios da humanidade muito raramente tiveram uma
sexualidade comum, de acordo com a convenção de suas épocas? Sim, uns foram castos, outros
boêmios, outros tiveram relacionamentos estáveis, mas aqueles que se casaram e viveram com suas
companheiras em tudo de acordo com a convenção cristã são a mísera minoria entre os maiores criadores da humanidade. Isso é porque relacionamentos amorosos segundo essa convenção são a ferramenta principal dos medíocres para aceitar a vida, e os gênios têm uma repulsa natural pelas escolhas dos covardes, mesmo que não exista nada intrinsecamente mau em tais escolhas, como
no caso. É uma questão de estilo.

A redução do Amor ao amor sexual é, como as reduções em geral, um reflexo da covardia,
e é típico dos covardes atacar a imagem daqueles que carregam a verdade a ser enterrada.
Muitos homens e mulheres são medrosos e confusos a ponto de não afirmarem a si mesmos
como artistas, pensadores, santos, ou quaisquer que sejam suas aspirações do espírito.
A sociedade os feriu mortalmente no espírito, e eles nunca conseguem a coragem para
medicar essas feridas e recusar as regras e orientações que lhes são nocivas. Esses são
os medíocres. Ninguém é por essência ou fisicamente medíocre, isso acontece quando
a sociedade sufoca o potencial de seus membros e o indivíduo não é capaz de enfrentá-la.

Assim eles vivem em função desse amor da monogamia, buscando alguém que os defenderá
apaixonadamente, porque eles não defendem a si mesmos. Procuram que cuide deles, porque
eles não se cuidam. Procuram quem minta para eles, alguém para complicar a existência
que eles simplificaram com suas reduções cretinas. Como são tristes.

Em uma sociedade sem covardes, a sexualidade não precisaria ser acompanhada por dogmas morais.
Ela seria regulada pela arte, e assim cada um seria mais livre para se satisfazer e
se expressar sem reduzir sua existência a isto, pelo menos não involuntariamente,
O desejo não precisaria nunca ser camuflado com inúmeras desculpas e eufemismos. o amor
não pareceria idêntico ao desejo, os relacionamentos não seriam meios para fugir de problemas
de outros tipos, o mundo não estaria coberto de hipócritas monogâmicos na luz do dia e
poligâmicos sob a proteção da noite,

Se eu vejo a monogamia como um mal? De forma alguma! Não nesta sociedade, pelo menos.
Sim, atualmente ela é o único meio que a maioria encontra para sentir que existe uma alma,
e isto é danoso para a sociedade em geral, para a saúde psicológica do grande número, isto
é danoso para a sexualidade e até para o amor sexual convencionado, porque poucos são
verdadeiramente dotados das características necessárias para a monogamia, mas quase todos
cedem aos dogmas da sociedade. Bem, pelo menos ainda nos resta isto!

Às vezes eu penso que a disposição para esse tipo de amor é a última fortaleza do espírito
dos fracos, porque se recusassem o amor que tem por seus companheiros ou pretendentes,
se o seus corpos não os compelissem a prestar atenção em outros seres humanos, esses niilistas
não encontrariam  motivo nenhum para ter algum cuidado artístico com suas vidas.

Mas quem almeja pela profunda afirmação da vida, pelo amor, pela inteligência e pelo poder
terá que encontrar em si a coragem para repelir o inimigo e tomar o território perdido.
Esta resistência amedrontada é bastante patética e a cada dia se enfraquece.  

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Teorias sobre a moral

O que significa ser "bom" ou ser "uma boa pessoa"?

Muitas possibilidades de definição aparecem na história da filosofia e em discussões mais
comuns. Para alguns "ser bom" é idêntico a ser honesto e trabalhador. Para Immanuel Kant,
ser bom significa ter uma disciplina racional voltada para a descoberta e para a obediência
das leis morais universais, significa ter um bom caráter. Para David Hume ser bom significa
ser útil, ser capaz de promover o maior benefício possível para o maior número de pessoas,
significa ser feliz e trazer felicidade aos outros.    

Honestamente, todas as definições do que é ser moral que já estudei partilham de semelhante
quantidade de pontos positivos e negativos e trazem um semelhante universo de possibilidades
e limites teóricos e práticos. Não parece existir uma teoria superior, e também não parece que
todas as teorias falharam de alguma maneira, muito pelo contrário.

Me parece que existem questões de princípio, nas quais a própria dignidade das partes
envolvidas está em jogo. Nessas questões, não penso que seja pertinente uma solução baseada
na utilidade e naquilo que se observa de fato no mundo, porque se trata de um conflito de ideias,
como "nossa situação é justa?" ou " estou sendo respeitado?". Nesses casos a moralidade deve
ser examinada pelo uso da razão e com o apoio de princípios universais, porque "justiça" e
"respeito" não existem no mundo físico, mas guiam nossa percepção dele de maneira fundamental,
o que nos impede de chamar tais noções de puras ficções, mesmo que sejam de origem fictícia.

Penso também que nós não podemos nos esquecer que temos corpos e que o exercício da razão
não é puro nem suficiente para lidar com a existência humana. Existem algumas questões pertinentes
ao estado de nossos corpos e de sensações mais próximas do físico do que do intelectual. Nesses
casos, o uso puro da razão e dos princípios universais é impertinente porque desvia o foco da
verdadeira questão, que se refere a casos particulares e interações entre coisas físicas, animadas
ou não, porque são questões como "esta ação nos trará sofrimento ou alegria?" ou " que organização
seria mais conveniente para nós?". A nossa compreensão do estado das coisas materiais decide o
significado da moralidade nesses casos, porque neles o que muda em nós depende estritamente do
corpo e dos fatos. Essas questões são práticas e científicas se comparadas com as de princípio,

A ideia de que um sujeito moral é um trabalhador dedicado, disciplinado e sincero aparece
com frequência em discussões comuns. De alguma maneira essa noção une as duas citadas
anteriormente, considerando ambos os aspectos práticos e os ideais da situação de uma maneira
simples. Considerando que nós agimos durante boa parte de nossas vidas de maneira automática
e influenciada pelo contexto, existe um apelo nessa forma de pensar. Ela é, porém, impertinente
em qualquer caso em que a confiança no estado vigente esteja perdida, porque é baseada acima
de tudo na obediência e na disciplina, de tal forma que se os princípios defendidos pela população
e pelo governo são duvidosos e confusos, ser obediente e honesto significa ser ludibriado e
manipulado. É o nosso caso, infelizmente.    
          
Os defensores acadêmicos de cada ponto de vista moral gostariam que a discussão moral fosse
redutível a suas teorias prediletas, ou simplesmente pouco se importam com o mundo.
De qualquer forma, essa redução é impossível. Não sabemos transformar questões de princípio
em questões práticas, nem o contrário. Muitas tentativas foram e são feitas,

Por exemplo, um cientista poderia monitorar os impulsos cerebrais de voluntários colocados diante
de certos dilemas morais clássicos, para localizar as partes do cérebro estimuladas e a ordem dos
estímulos. Extrair de tal experimento alguma consequência metafísica é incorreto logicamente.
Nada no observado permitirá que o cientista conecte o observado com os objetos abstratos envolvidos
em tais dilemas, como "bem" e/"mal". As propriedades do que ocorre fisicamente não podem ser
aplicadas ao intelectual. Me chamem de cético ou até de profeta, mas eu lhes asseguro que essa impossibilidade vai persistir independentemente dos avanços da ciência. Isso porque existe um erro
de fundamento em se tentar reduzir questões existenciais a questões práticas. Não nego, porém,
a relevância geral dos resultados científicos para o entendimento geral que a humanidade tem de
si mesma. Meu ponto é que esses resultados tem um campo de pertinência bem definido, e por
esse motivo precisamente são tão potentes no exame da prática.

Um metafísico poderia utilizar do caráter geral de seus princípios universais para abarcar
preventivamente quaisquer casos particulares a serem descobertos pela ciência, e isso tudo
com um sistema logicamente impecável e repleto de belas palavras. Mas isso é apenas um truque,
e já está ultrapassado. Nós sabemos bem hoje que não podemos confiar absolutamente na
correspondência entre nossas ideias e os fatos que elas representam, e que existe um elemento
de crença em toda teoria que adotamos. Além disso, "dignidade", por exemplo, diz respeito a
algo estritamente teórico e psicológico, e é antes algo religioso ou artístico do que algo científico.
Não é possível extrair tão descuidadamente normas morais para o trabalho e para a ciência de
processos intelectuais abstratos e não fatuais. Várias de nossas interações com o meio físico
são desprovidas de significados metafísicos, e a moralização intelectual -- em vez da prática --
do que é físico resulta em aberrações como a impurificação da sexualidade e o banimento da
homossexualidade como algo imoral. Condenar alguém é uma prática que deve ser controlada primeiramente pelo exame das consequências. Além disso, nosso desejo de generalizar
frequentemente sai do nosso controle, e muitas vezes crença se transforma em ódio cego.
Repudiar alguém é uma ferramenta que requer cuidado e sobriedade, dadas as consequências.

O que quero mostrar, por enquanto, é que apenas um sujeito capaz de reter todas essas formas
de ver o bem e o mal dentro de si tem verdadeiro potencial para agir moralmente em qualquer
situação. O desejo de elevar uma teoria ao máximo é uma infantilidade intelectual. Aquele que
pretende "ser uma boa pessoa", como dizem, precisa conter todas essas ferramentas de análise
e significação do mundo, em equilíbrio. Ele não deve ser como os acadêmicos que estudam
mil teorias apenas pela diversão e pela vã glória de ler livros difíceis, nem como os cegos e
surdos que sustentam uma única série de princípios e justificativas ao longo da vida,

O exercício consciente do bem -- ou do mal -- está acessível apenas aos observadores e
aos adaptáveis, aos que sabem unir a razão e a sensação sob várias perspectivas mas com o
mesmo sentido, nesses tempos nos quais perspectivas de diversas épocas diferentes são
sustentadas ao mesmo tempo, nos quais um ponto de vista único nunca basta.    

Fazer o bem é uma arte da renascença, é buscar a afirmação máxima da humanidade
e da sua história, exercendo e elevando a arte, a ciência e a fé. Desfazer as instituições
decrépitas, calar as palavras mórbidas e inspirar para o amor, para o poder, para a vida.    

domingo, 21 de dezembro de 2014

Liberdade

Nem sempre aqueles que falam em liberdade, geralmente tentando negar ou defender sua existência,
observam  que tipo de discussão está de fato ocorrendo. Assim cientistas muitas vezes derivam de
experimentos materiais consequências e discussões metafísicas e teológicas, Intelectuais que
analisam a cultura muitas vezes derivam de suas observações consequências causais e uma discussão
materialista sobre a liberdade. Pensadores da política também costumam misturar o caso específico
da liberdade civil em uma dada sociedade que se analisa com a liberdade da espécie humana.

A discussão sobre a liberdade em si é por essência e fundamento metafísica e teológica. Isso
porque o conceito não nasceu das ferramentas materialistas de análise do mundo, mas precisamente
das mentes dos metafísicos e teólogos. A ideia de liberdade é afirmada ou negada mentalmente por
toda a população que se coloca em algum momento para pensar a própria existência de um ponto
de vista filosófico, e isso se dá no plano das ideias e de forma indiferente para o meio físico. É
fácil reparar que decidir-se se a liberdade existe tem efeitos mentais que não se associam
a possibilidades do meio físico, apenas às mentais como "é concebível que exista liberdade?"

Penso que isso seja assim dada a própria natureza da liberdade. Ela surge da nossa capacidade
abstrair, isto é, eliminar em pensamento partes do mundo material e até de nossas próprias ideias.
Explique essa capacidade da maneira que quiser, mas nós somos capazes de observar tão atentamente
as mais diversas coisas a ponto de perceber naquilo que é, aquilo que poderia não ser. Dessa forma
somos capazes manipular o meio material de maneira muito superior em comparação aos demais
animais complexos, que podem ser muito perceptivos, ter boa memória, pensamento rápido mas 
tudo isso com pouca ou nenhuma capacidade de pensar e manipular mentalmente aquilo que não está presente a partir daquilo que está. O potencial para negar e destruir é o nosso poder primordial sobre
o resto da natureza, e também é o poder principal que temos para combater uns aos outros.    

Chamo de liberdade não o estado das coisas, mas o estado daquilo que não é.
Quanto mais intensamente presente for a negação de ideias e coisas em nossas mentes, mais
profunda é nossa liberdade. Se também conhecemos o que nos cerca e as ideias que outros
apresentam a nós, podemos a partir do estado de negação dar existência material para inúmeras
de nossas imaginações. Um sujeito é livre na medida em que não aceita para si coisas e ideias
que eliminariam outras possibilidades.

Um indivíduo absolutamente sem vínculos e sem convicções seria absolutamente
livre. Sabemos que isso não é possível. Na medida em que escolhemos ter, criar ou até tornar
parte de nós coisas e ideias nos tornamos menos livres, porque optamos por afirmações e não
pela  negação e todas as possibilidades imagináveis nela.

A liberdade não é um poder, nem um direito, nem nada que é. Por causa disso aqueles
que examinam o mundo e não as próprias ideias não conseguem encontrar o sentido do
conceito de liberdade. A liberdade é a intensidade com a qual nossa vontade nega as coisas e ideias
diretamente e remotamente presentes. É por esse motivo que os mais livres são sempre aqueles
capazes de pagar o preço da liberdade, que consiste na recusa das tantas recompensas oferecidas
àqueles que simplesmente aceitam as coisas e ideias tais como são.

O que lhe agrada mais?

A sensação de poder da imaginação, a sensação de recusar o que não lhe agrada mesmo que exista
um preço a se pagar ou a sensação da paz e da disciplina, a sensação de não ter que sofrer com o conflito e com a confusão?  Negar e transformar ou aceitar e preservar?

Pobre de quem quer ser livre e ter paz ao mesmo tempo!
Quem quer a paz terá que pagar com o orgulho, terá que abandonar um universo de possibilidades.
Quem quer  manter as possibilidades terá viver em guerra, com o mundo e consigo mesmo.      

Independente do que decidir pensar e fazer, faça-o bem, e com clareza.
 

domingo, 14 de dezembro de 2014

Liberdade Civil

A mente da maioria das pessoas morre assim que o corpo se desfaz o suficiente.
A mente de alguns persevera em cada ato, cada discurso, cada palavra escrita. Depois 
da morte, o que certas pessoas são permanece vivo nos desenvolvimentos da humanidade.
Isso acontece porque umas pessoas vivem perdidas, tentando perpetuar o passado ou atuando
no futuro antes de sua existência, enquanto outras são capazes de agir no presente, no real.

Quem age no presente e na humanidade, e não apenas nas próprias ideias, compreende
o que significa a liberdade civil. A enorme maioria dos humanos tem potencial para deixar
suas marcas no futuro das sociedades, mas destes a maioria se engana sobre suas liberdades.

A liberdade civil não é um direito. Direitos podem ser, e geralmente são, apenas um 
aglomerado de palavras bonitas destinadas a transmitir a ilusão de segurança a um povo. 
Direitos também podem ser evocados a qualquer instante em qualquer conflito, sob qualquer 
vontade. E, como se isso não bastasse, os usuários de um dado direito frequentemente discordam
entre si sobre o que o direito significa e permite. Os direitos não tem poder sobre os fatos. 
Todos nós temos o "direito de ir e vir", mas não podemos transitar livremente por qualquer lugar.
De pouco vale um direito, por si mesmo. Direitos são lembretes, promessas do passado.

A liberdade civil não é uma postura de obediência nem de desobediência. Tanto os afirmadores
quanto os combatentes da ordem vigente podem estar presos ao passado ou sonhando como tolos
com o futuro. Ambos adoram pensar que são libertadores da humanidade, mas geralmente
tem contato apenas com as próprias ideias simplificadoras da realidade, e não são capazes de
observar e ouvir as pessoas e tanto menos de estudar os fatos. São na verdade pessoas do tipo
passageiro com uma ambição egoísta pelo controle das escolhas de outros indivíduos, ou são
pessoas que sofrem internamente mas que procuram curar suas dores indiretamente, pelo
meio externo. Revolucionários e autoridades não buscam a liberdade nem o progresso, apenas a 
si mesmos, a suas identidades perdidas em seus próprios sonhos.  

A liberdade civil nasce da atenção constante ao que se passa e se pensa  na sociedade em que 
se vive. Ela é o uso da razão que ignora o valor subjetivo das tradições, que ignora o ilusório
poder das autoridades, que ignora a tirania da maioria, que ignora os sonhos dos tolos que 
disputam por poder ou por redenção própria. A liberdade civil nasce do exame racional, até 
espiritual,  da constituição de uma sociedade, o que permite um julgamento de valor e um
conhecimento verdadeiro daquilo que pode e deve progredir.  

Viver livre em sociedade, investigando e criando independentemente das demandas fúteis 
daqueles que simplesmente passam pela vida tão fracos quanto o próprio orgulho. O desapego 
das recompensas fúteis, dos subornos que os governantes e os vulgares oferecem para que certas 
ideias se preservem. A inflexibilidade intelectual diante dos cretinos que proferem ordens como 
se fossem dotados de alguma força quando simplesmente seguiram ordens o  bastante para se tornarem autoridades. A indiferença aos discursos superficiais e narcisistas. A clareza diante dos esquemas traiçoeiros dos que desejam tudo aquilo que não merecem  Esses são os atributos dos livres, daqueles que você despreza hoje mas que seus netos irão idolatrar. Daqueles com poder, com força vital, com vontade. Daqueles sem máscaras. Dos donos do seu destino.

Que um dia o grande número conheça tal liberdade, para que a humanidade não
mais reprima seus heróis, para que heróis não mais sejam necessários.   


   

sábado, 6 de dezembro de 2014

O cérebro de Einstein

Albert Einstein foi um dos intelectuais mais importantes do século XX.
Suas contribuições não se resumem ao avanço teórico da física, e sua influência
por causa da física gerou muita atenção para suas ideias contra a guerra e o patriotismo
violento, suas ideias a favor de uma espécie humana intelectual, artística e espiritual.
A obra "Como eu vejo o mundo" é interessante para quem tiver mais curiosidade.

Einstein fez grandes descobertas sem se especializar demais em sua área. Ele era
muito interessado pela arte e em especial pela filosofia. Seus ideais foram muito intensos.
Nem todos os humanos podem se orgulhar de feitos e qualidades dessa espécie.

Quando Einstein recusou uma cirurgia essencial para sua sobrevivência, aos 76 anos,
ele realizou um último feito raro, o de escolher a hora da própria morte.
Não havia muito a ser descoberto na autópsia. A causa da morte foi a hemorragia
interna causada por uma ruptura em sua aorta abdominal.

Porém, um médico do hospital chamado Thomas Harvey estava disposto a
quebrar as regras do hospital para que a humanidade pudesse um dia descobrir
o segredo da genialidade. Ele removeu o cérebro de Einstein para que ele fosse
preservado e um dia estudado por uma neurociência mais avançada.

Isso foi genial! Mas agora estou sendo sarcástico.
Um leitor pode se perguntar, como Thomas, " Por que Einstein foi tão genial? "
Mas essa pergunta é preguiçosa. Ela busca por um dado objetivo que diferencie os
gênios dos medíocres. Talvez a diferença seja feita justamente por esse tipo de pergunta.        

Se você considera que a resposta está de fato no órgão associado ao pensamento
e não em toda a formação intelectual, em todos os valores, enfim, em todas as vivências
de Einstein, você talvez esteja procurando não a resposta mas um conforto.
Você talvez queira pensar que Einstein tinha algo biológico que você não pode ter.
A ideia de que você tem o mesmo potencial de Einstein mas não o realiza por escolha
deve ser um grande incomodo. Você precisa de mais coragem.

Se você busca aquilo que Einstein teve, abandone esse triste hábito mental
de pensar na parte como se fosse o todo, essa hábito de buscar atalhos e fronteiras claras para
aquilo que está no espírito. Esqueça os títulos de honra, as qualidade físicas, as oportunidades
materiais e todas essas desculpas. Não siga o exemplo dos arrogantes e frustrados.

Albert respondeu a pergunta de Thomas enquanto seu cérebro ainda estava no lugar
devido. Prepare seus olhos para o que se segue. É um vislumbre do Absoluto.

"Os ideais que me orientam são a bondade, a beleza e a verdade"
 Se você quer ser um gênio, compreenda a união desses ideais.    

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

A falta de fatos

Em uma discussão na qual as partes envolvidas pretendem chegar a alguma coisa, é fundamental que alguns juízos sobre fatos sejam emitidos. Do contrário, as discussões se tornam um choque de imaginações, algo raramente produtivo ou  mesmo agradável em qualquer sentido.

Isto é óbvio! E mesmo assim mais e mais pessoas que se envolvem em discussões na internet são arrastadas para a ideia de que não é possível chegar nunca a um acordo e de que não existem fatos, apenas interpretações.

Mas não será a própria imaturidade diante da interações com os outros que nos leva a supor que a realidade não existe? Que tudo que comunicamos é produto imaginário? Filósofos como Nietzsche que criticaram a objetividade estavam reagindo ao, de maneira resumida, nosso impulso de agarrar nossas convicções a todo custo, principalmente aquelas que nos foram ensinadas. Com isso esquecemos de aproveitar a vida e suas transformações e possibilidades, vivendo atormentados em prisões morais e divinas.      

E nós, estamos reagindo ao mesmo cenário? Aparentemente não. Nosso estímulo de reação para desistir da objetividade parece ser simplesmente a frustração envolvida em sua busca. Existe um assunto que envolve uma decisão objetiva em relação ao mundo. Por exemplo, legalização total dos estudos com células tronco extraídas de cordões umbilicais. Você expressa um ponto de vista, muito importante para você. Outro expressa o oposto, com igual carga afetiva. Os afetos se encontram mas a ideias não. Ninguém compreende o que acontece, todos se ofendem ou se cansam. Isso se repete para diversos assuntos.

Com o conhecimento refinado sendo isolado no contexto acadêmico, repleto de trabalhos que requerem uma enorme quantidade de outras referências e até mesmo línguas estrangeiras, ficamos condenados a dois extremos.

Podemos admitir o narcisimo daqueles que abandonam as discussões que realmente movem o mundo em nome de um estudo tradicional voltado para o culto do ego e da própria tradição. E nem assim somos livres da pressão relativista! Dentro da academia ninguém realmente se importa com o conteúdo do que é dito, apenas com o modo como é dito e com o fato de que algo é dito.

A alternativa é não cair nessa armadilha e discursar livremente na internet. Mas com isso não temos acesso a ferramentas sofisticadas de pensamento que estão sendo guardadas pelo nossos auto prestigiados intelectuais. O resultado desse caso é experimentado pela maioria das pessoas com acesso regular à internet.   

Como sair disso? Me acompanhe:

O mundo existe independentemente de você. Outras pessoas são existências do mundo igualmente independentes. Nós não temos uma imaginação divina capaz de criar a natureza. Os avanços na arte e na cultura nos provocam essa ilusão. Todas as experiências, todas as vivências, são precisamente deste mundo que todos nós compartilhamos. Ouça opiniões diferentes da sua não como imagens desconectadas da sua realidade, mas como percepções de outras partes do real.

A interação com o meio limita nossas possibilidades, mas em um bom sentido, no sentido de dar sossego a essa sensação opressora de poder criar tudo livremente e, portanto, não ter nenhuma base firme. Você quer pensar coisas mais precisas, mais objetivas? Pense menos por si e para si mesmo e considere outras necessidades, outros interesses, outros sentimentos.

Pare de brincar, comece a investigar.

Texto completo: Frustração e relativismo

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Mistificação do inconsciente

A amplamente aceita tese de que parte de nossos pensamentos não é consciente é
quase sempre atribuída a Freud, mas essa ideia faz sentido de várias outras perspectivas
além da psicanalítica.

Se nossa mente depende de um corpo mas é diferente desse corpo, deve haver uma intersecção
entre essas duas partes de nós. Por um lado, as ideias abstratas  da consciência que são capazes
de despertar afetos por elas mesmas, por outro as informações corporais sedimentadas no nível
mais básico da atividade mental, que não participa de processos mais elaborados de abstração
como a consciência.

Muitas descobertas interessantes são feitas a partir dessa tese, mas também algumas confusões.
Quem admite que existe inconsciente e que "Deus está morto" geralmente imagina que nossa
parte consciente é a menos valiosa. Isso porque nesse ponto de vista a razão é apenas uma forma
de manipular o mundo, enquanto o verdadeiro conteúdo é o concreto, irracional, inconsciente.

Essa ideia começa a ficar suspeita quando consideramos que o material toma o papel
antes atribuído ao espiritual. O inconsciente passa a ser tratado como essência, aquilo
que nos liberta quando é atingido. Mas o desprezo pela ideia de Deus e da razão não
deveria eliminar completamente esse modelo de espiritualidade, de busca pela essência
oculta? Não deveria haver essência oculta!

Aparentemente quando desistimos da libertação da razão, depositamos toda nossa
expectativa espiritual no inconsciente, nós encontramos algo mais que carrega mistérios
e criamos fantasias com o potencial dessa tese.

Nós não temos nenhum motivo sério para pensar que o inconsciente é tão melhor
que o consciente. " Mas quando eu liberto meus sentimentos..."  isso é consciente.
O que te faz pensar que tem mais desses sentimentos bons que você às vezes precisa 
reprimir na terra de ninguém entre o corpo e razão?

A tese de quem pensa dessa forma parece ser que nós fugimos de nós mesmos com
o consciente porque o inconsciente é perturbador. Mas, como poderia, se nunca foi
nem será consciente? Quando falamos do que não sabemos nós expressamos desejos
ou decisões. Talvez o consciente seja assustador, difícil de enfrentar.

Afinal, nossos desejos conscientes frequentemente clamam por mudanças difíceis,
por disciplina, por coragem. Reduzir a vida às sensações e à imaginação livre me
parece uma fuga da pior espécie.          

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Humildade

Quando falamos sobre a humildade, geralmente pensamos em algo oposto
à arrogância. A humildade seria uma quase ausência de orgulho enquanto a arrogância
seria um excesso. Mas será que isso explica bem nosso comportamento?

Se não observei mal, nós tendemos a odiar sujeitos arrogantes porque eles se destacam às
nossas custas e sequer conseguem algo além de chamar nossa atenção.
Um sujeito arrogante procura ser elogiado em comparação a outros, e tal expectativa é
um fruto da imaginação, porque comparações de valor entre pessoas não fazem sentido.

Então, um sujeito arrogante impõe uma imagem sobre si e sobre os outros, faz comparações
indevidas entre as pessoas e consegue pouco além de preservar sua auto imagem.
Mas não é exatamente isso que um humilde faz?

Um pregador da humildade adora comunicar aos outros que ignorar as próprias
limitações é errado. Mas quem pode nos dizer sobre nossos limites? Além disso,
se não os eliminarmos da mente, como poderemos um dia superá-los? Talvez esses
pregadores não desejem isso, talvez um mundo nivelado seja mais fácil.

Quando fazemos algo para nos colocar acima de outros ou quando nos rebaixamos
diante de outro porque não fazemos algo que ele faz, nós tentamos colocar outros em
seus devido lugares porque nos consideramos juízes ou tentamos nos colocar no nosso
porque nos consideramos  julgáveis. Nós paramos de prestar atenção no que acontece
ao nosso redor imaginando o que as pessoas pensam que nós pensamos de nós mesmos.

Há uma semelhança essencial entre dois sujeitos que admitem hierarquias de
valor, mesmo que um se coloque acima e o outro abaixo.  
Talvez a humildade e a arrogância não sejam afetos opostos, mas contrapartes,
dois lados da mesma moeda, digamos.

Essa moeda deve ser uma crise com a própria vaidade, uma dificuldade em
administrar a necessidade que uma ser inteligente tem de reter boas ideias sobre
si na mente. Para isso é preciso agir, gerar bons afetos e guardar os feitos na memória.

Mas nós preferimos acorrentar a nós mesmos e aos outros por medo da transformação,
que acontece de qualquer forma, nesses casos gerando confusão e alienação.

Texto completo: Vaidade das vaidades

domingo, 9 de novembro de 2014

Bem-Vindos!

Bem-Vindos!

Esta é a primeira postagem de muitas, eu espero. Pretendo neste blog registrar 
algumas reflexões sobre a existência. a ética, a política, a ciência, enfim.

Para a conveniência do leitor, os posts deste blog serão sempre breves provocações, 
com links para textos mais longos e aprofundados, cada um com sua
própria página. Assim atendo os impacientes tanto quanto os pacientes!

Eu nunca mantive um blog, então eu talvez faça uso de uma organização inconveniente 
para o leitor. Adoraria receber dicas de quem gostar do conteúdo mas não muito da forma.
Pretendo postar duas provocações, toda segunda e sexta-feira, e um texto toda segunda.

Se você gostar do conteúdo, deixe um comentário ou discuta a ideia com seus amigos!