domingo, 21 de dezembro de 2014

Liberdade

Nem sempre aqueles que falam em liberdade, geralmente tentando negar ou defender sua existência,
observam  que tipo de discussão está de fato ocorrendo. Assim cientistas muitas vezes derivam de
experimentos materiais consequências e discussões metafísicas e teológicas, Intelectuais que
analisam a cultura muitas vezes derivam de suas observações consequências causais e uma discussão
materialista sobre a liberdade. Pensadores da política também costumam misturar o caso específico
da liberdade civil em uma dada sociedade que se analisa com a liberdade da espécie humana.

A discussão sobre a liberdade em si é por essência e fundamento metafísica e teológica. Isso
porque o conceito não nasceu das ferramentas materialistas de análise do mundo, mas precisamente
das mentes dos metafísicos e teólogos. A ideia de liberdade é afirmada ou negada mentalmente por
toda a população que se coloca em algum momento para pensar a própria existência de um ponto
de vista filosófico, e isso se dá no plano das ideias e de forma indiferente para o meio físico. É
fácil reparar que decidir-se se a liberdade existe tem efeitos mentais que não se associam
a possibilidades do meio físico, apenas às mentais como "é concebível que exista liberdade?"

Penso que isso seja assim dada a própria natureza da liberdade. Ela surge da nossa capacidade
abstrair, isto é, eliminar em pensamento partes do mundo material e até de nossas próprias ideias.
Explique essa capacidade da maneira que quiser, mas nós somos capazes de observar tão atentamente
as mais diversas coisas a ponto de perceber naquilo que é, aquilo que poderia não ser. Dessa forma
somos capazes manipular o meio material de maneira muito superior em comparação aos demais
animais complexos, que podem ser muito perceptivos, ter boa memória, pensamento rápido mas 
tudo isso com pouca ou nenhuma capacidade de pensar e manipular mentalmente aquilo que não está presente a partir daquilo que está. O potencial para negar e destruir é o nosso poder primordial sobre
o resto da natureza, e também é o poder principal que temos para combater uns aos outros.    

Chamo de liberdade não o estado das coisas, mas o estado daquilo que não é.
Quanto mais intensamente presente for a negação de ideias e coisas em nossas mentes, mais
profunda é nossa liberdade. Se também conhecemos o que nos cerca e as ideias que outros
apresentam a nós, podemos a partir do estado de negação dar existência material para inúmeras
de nossas imaginações. Um sujeito é livre na medida em que não aceita para si coisas e ideias
que eliminariam outras possibilidades.

Um indivíduo absolutamente sem vínculos e sem convicções seria absolutamente
livre. Sabemos que isso não é possível. Na medida em que escolhemos ter, criar ou até tornar
parte de nós coisas e ideias nos tornamos menos livres, porque optamos por afirmações e não
pela  negação e todas as possibilidades imagináveis nela.

A liberdade não é um poder, nem um direito, nem nada que é. Por causa disso aqueles
que examinam o mundo e não as próprias ideias não conseguem encontrar o sentido do
conceito de liberdade. A liberdade é a intensidade com a qual nossa vontade nega as coisas e ideias
diretamente e remotamente presentes. É por esse motivo que os mais livres são sempre aqueles
capazes de pagar o preço da liberdade, que consiste na recusa das tantas recompensas oferecidas
àqueles que simplesmente aceitam as coisas e ideias tais como são.

O que lhe agrada mais?

A sensação de poder da imaginação, a sensação de recusar o que não lhe agrada mesmo que exista
um preço a se pagar ou a sensação da paz e da disciplina, a sensação de não ter que sofrer com o conflito e com a confusão?  Negar e transformar ou aceitar e preservar?

Pobre de quem quer ser livre e ter paz ao mesmo tempo!
Quem quer a paz terá que pagar com o orgulho, terá que abandonar um universo de possibilidades.
Quem quer  manter as possibilidades terá viver em guerra, com o mundo e consigo mesmo.      

Independente do que decidir pensar e fazer, faça-o bem, e com clareza.
 

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