domingo, 14 de dezembro de 2014

Liberdade Civil

A mente da maioria das pessoas morre assim que o corpo se desfaz o suficiente.
A mente de alguns persevera em cada ato, cada discurso, cada palavra escrita. Depois 
da morte, o que certas pessoas são permanece vivo nos desenvolvimentos da humanidade.
Isso acontece porque umas pessoas vivem perdidas, tentando perpetuar o passado ou atuando
no futuro antes de sua existência, enquanto outras são capazes de agir no presente, no real.

Quem age no presente e na humanidade, e não apenas nas próprias ideias, compreende
o que significa a liberdade civil. A enorme maioria dos humanos tem potencial para deixar
suas marcas no futuro das sociedades, mas destes a maioria se engana sobre suas liberdades.

A liberdade civil não é um direito. Direitos podem ser, e geralmente são, apenas um 
aglomerado de palavras bonitas destinadas a transmitir a ilusão de segurança a um povo. 
Direitos também podem ser evocados a qualquer instante em qualquer conflito, sob qualquer 
vontade. E, como se isso não bastasse, os usuários de um dado direito frequentemente discordam
entre si sobre o que o direito significa e permite. Os direitos não tem poder sobre os fatos. 
Todos nós temos o "direito de ir e vir", mas não podemos transitar livremente por qualquer lugar.
De pouco vale um direito, por si mesmo. Direitos são lembretes, promessas do passado.

A liberdade civil não é uma postura de obediência nem de desobediência. Tanto os afirmadores
quanto os combatentes da ordem vigente podem estar presos ao passado ou sonhando como tolos
com o futuro. Ambos adoram pensar que são libertadores da humanidade, mas geralmente
tem contato apenas com as próprias ideias simplificadoras da realidade, e não são capazes de
observar e ouvir as pessoas e tanto menos de estudar os fatos. São na verdade pessoas do tipo
passageiro com uma ambição egoísta pelo controle das escolhas de outros indivíduos, ou são
pessoas que sofrem internamente mas que procuram curar suas dores indiretamente, pelo
meio externo. Revolucionários e autoridades não buscam a liberdade nem o progresso, apenas a 
si mesmos, a suas identidades perdidas em seus próprios sonhos.  

A liberdade civil nasce da atenção constante ao que se passa e se pensa  na sociedade em que 
se vive. Ela é o uso da razão que ignora o valor subjetivo das tradições, que ignora o ilusório
poder das autoridades, que ignora a tirania da maioria, que ignora os sonhos dos tolos que 
disputam por poder ou por redenção própria. A liberdade civil nasce do exame racional, até 
espiritual,  da constituição de uma sociedade, o que permite um julgamento de valor e um
conhecimento verdadeiro daquilo que pode e deve progredir.  

Viver livre em sociedade, investigando e criando independentemente das demandas fúteis 
daqueles que simplesmente passam pela vida tão fracos quanto o próprio orgulho. O desapego 
das recompensas fúteis, dos subornos que os governantes e os vulgares oferecem para que certas 
ideias se preservem. A inflexibilidade intelectual diante dos cretinos que proferem ordens como 
se fossem dotados de alguma força quando simplesmente seguiram ordens o  bastante para se tornarem autoridades. A indiferença aos discursos superficiais e narcisistas. A clareza diante dos esquemas traiçoeiros dos que desejam tudo aquilo que não merecem  Esses são os atributos dos livres, daqueles que você despreza hoje mas que seus netos irão idolatrar. Daqueles com poder, com força vital, com vontade. Daqueles sem máscaras. Dos donos do seu destino.

Que um dia o grande número conheça tal liberdade, para que a humanidade não
mais reprima seus heróis, para que heróis não mais sejam necessários.   


   

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